USP quer saber como guardas municipais treinam atendimento às mulheres

15/05/2020

Projeto de pesquisa aborda problema da violência contra as mulheres, um agravante da pandemia do novo coronavírus, como apontam Maria Arminda Arruda e Marcos Alvarez

Publicado originalmente no Jornal USP

Não são baixos os índices que mostram a forte ocorrência de violência contra as mulheres e, consequentemente, do feminicídio no Brasil. Olhando para a problemática, o Escritório USP Mulheres e o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP firmaram uma parceria de estudo que resultou no projeto de pesquisa Segurança Pública nos Municípios: O Papel das Guardas Municipais na Prevenção da Violência Contra a Mulher. Para falar sobre a pesquisa, o Jornal da USP no Ar conversou com a professora Maria Arminda Arruda, diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP e coordenadora do Escritório e com o professor Marcos Alvarez, coordenador do NEV da USP.

Com diversos trabalhos ao longo de 30 anos relacionados à violência, o NEV agora tem a oportunidade de ampliar ainda mais os estudos na área junto ao Escritório, após submeter o projeto nos programas Santander de Políticas Públicas e USP Municípios. “O desenho do edital apontava para uma questão vinculada aos municípios no Estado de São Paulo [guardas municipais]. A ideia é fazer um diagnóstico da violência em geral e segurança pública, e um levantamento de como as guardas municipais abordam a questão [da violência contra a mulher]”, explica Alvarez, coordenador geral do projeto.

O isolamento social tem levado ao aumento da violência contra a mulher, aponta Maria Arminda. Por isso, se faz necessário saber quais as formas de agir das guardas municipais e também pensar como os agentes podem ser treinados para enfrentar as ações de violência e o feminicídio. O estudo pretende escolher três municípios (um do litoral, interior e Grande São Paulo) para aprofundar os diagnósticos e as análises.

De acordo com a professora Maria Arminda, a desigualdade social no mundo contemporâneo está acentuada e diretamente relacionada às outras desigualdades, não sendo diferente com a de gênero, “que está ligada às formas de feminicídio, violência doméstica e manifestações adjetas da desigualdade”. Ela diz ainda que esse projeto aparece em um momento fundamental para entender como os agentes de segurança podem estar mais bem preparados para o efeito colateral da pandemia, que é o agravamento de um problema social preexistente. “Nós sabemos que a violência contra as mulheres é muito maior do que aparece nas estatísticas, pois as pessoas não dão parte nem notificam. Parece que a violência doméstica é entendida como parte do papel da mulher dentro das famílias”, afirma.

Ouça a entrevista na íntegra no player acima.