Bruno Paes Manso é autor citado na prova da Fuvest 2023

07/12/2022

No último domingo, 4, na prova da Fuvest, um dos maiores vestibulares do país, que seleciona candidatos para Universidades como a USP, foi incluída como bibliografia a obra “República das Milícias”, de autoria do jornalista e pesquisador do NEV/USP Bruno Paes Manso, comparada com a litura de referência de Max Weber a respeito da definição do monopólio legítimo da violência pelo Estado – questão central para as pesquisas realizadas pelo Núcleo atualmente, pelo programa NEV-CEPID (saiba mais).

A questão era a de número 10 na versão “V” e estava entre as perguntas de Sociologia, compondo os 90 tópicos para resposta de múltipla escolha na primeira fase do vestibular (sobre as disciplinas de Língua Portuguesa, História/Filosofia/Sociologia, Inglês, Geografia, Matemática, Biologia, Física e Química):

(figura: reprodução de trecho de prova da Fuvest 2023)

Resultante de pesquisas desenvolvidas pelo pesquisador em seu pós-doutorado no NEV, o livro “República das Milícias” foi premiado com o Prêmio Jabuti em 2022, em categoria de não-ficção, e também foi adaptado para Podcast, publicado originalmente na plataforma Globoplay, já tendo passado da marca de 1 milhão de acessos.

Acessada pelos mais de 114 mil candidatos da primeira fase do vestibular, a questão foi considerada de nível difícil, segundo matéria especializada da área de educação do Portal UOL:

Entre as perguntas consideradas “difíceis”, estavam as que abordaram questões sociais. “Uma questão que trazia a inserção das mulheres no mercado de trabalho, no início do século 20, em especial como educar as mulheres para tanto, era uma pergunta mais exigente, que dialogava com história e sociologia”. A temática da segurança pública também foi citada em sociologia. “Tivemos uma questão que trazia o texto de Max Weber, sobre o monopólio da violência na modernidade por parte do Estado, dialogando com o livro “República das Milícias”, de Bruno Paes Manso. A problematização era de que a atuação das milícias nas comunidades do Rio de Janeiro ferem e agridem o monopólio legítimo da violência por parte do Estado”
(Professor Breno Carlos da Silva, entrevistado pelo Portal).


Íntegra do enunciado e as alternativas

“Em nossa época, entretanto, devemos conceber o Estado contemporâneo como uma comunidade humana que, dentro dos limites de determinado território (…) reivindica o monopólio do uso legítimo da violência física. É, com efeito, próprio de nossa época não reconhecer, em relação a qualquer outro grupo ou aos indivíduos, o direito de fazer uso da violência, a não ser nos casos em que o Estado o tolere: o Estado se transforma, portanto, na única fonte do ‘direito’ à violência”.
WEBER, Max. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1970.

“Com a entrada das milícias na disputa por territórios no Rio de Janeiro, elas passaram a se digladiar pelo domínio geográfico das comunidades cariocas e fluminenses (…). Embora as milícias também comandem a comunidade com tirania e sua autoridade se mantenha à base de ameaças, como fazem os traficantes, e aqueles que contestam seu poder possam perder a vida e sofrer torturas, ao contrário do tráfico, os milicianos se vendem como fiadores de mercadorias valiosíssimas: ordem, estabilidade e possibilidade de planejar o futuro, aliança política com o Estado e a polícia. (…) O lado impopular desse modelo é que a maior parte das receitas para bancar o negócio vem da extorsão dos habitantes”.
PAES MANSO, Bruno. A república das milícias. São Paulo: Todavia, 2020.

A partir da definição de Estado proposta por Max Weber e de acordo com a citação de Paes Manso, como é possível analisar a atuação das milícias no Rio de Janeiro?

(A) As milícias, assim como o Estado, controlam a população e mantêm a ordem em determinado território com o uso ilegal da violência, da ameaça e da extorsão.

(B) As milícias contribuem para o exercício do monopólio do uso legítimo da violência pelo Estado, pois garantem a imposição da ordem e o controle do tráfico nos territórios que dominam.

(C) As milícias desafiam o monopólio do uso legítimo da violência física do Estado ao utilizar a violência ilegalmente para controlar determinados territórios.

(D) As milícias diferenciam-se dos traficantes ao atuar pacificamente em resposta à reivindicação popular por maior estabilidade e ordem nos territórios em que atuam.

(E) As milícias e os traficantes, assim como o Estado, possuem autonomia e legitimidade para usar a violência e controlar territórios.

(Prova V – questão 10; prova K – questão 45; prova Q – questão 59; prova X – questão 60; prova Z – questão 39)

 

Quer confirmar a alternativa correta? Acesse o gabarito oficial da Fuvest neste link.