NEV na mídia | Jornal da USP no Ar: Conceito de mãe solo ajuda a entender novo arranjo familiar nas periferias de São Paulo
19/10/2023
Giane Silvestre, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), deu uma entrevista para o Jornal da USP no Ar 1° edição, ao vivo na Rádio USP, na última segunda-feira, 17, sobre o projeto Novas Formações de Vida Coletiva nas Periferias de São Paulo: Mães Solo, Pais Ausentes, Violência e […]
Giane Silvestre, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), deu uma entrevista para o Jornal da USP no Ar 1° edição, ao vivo na Rádio USP, na última segunda-feira, 17, sobre o projeto Novas Formações de Vida Coletiva nas Periferias de São Paulo: Mães Solo, Pais Ausentes, Violência e Circulação de Moradias, uma iniciativa do NEV/USP em parceria com a Fundação Tide Setúbal.
A pesquisa está sob a coordenação da pesquisadora associada Teresa Caldeira, Professora da Universidade da Califórnia – Berkeley, pelo Prof. Dr. Sérgio Adorno, Coordenador Científico do NEV/USP e responsável pelo programa NEV-CEPID, e as pesquisadoras do Núcleo Giane Silvestre e Maria Gorete Marques de Jesus, contando com a colaboração dos pesquisadores Barbara Souza Lima, Breno Nascimento, Israel Brito e Nathalia Fernanda dos Santos.
De acordo com Silvestre, a dinâmica de construção familiar nos espaços da periferia tem mudado radicalmente nas últimas décadas e “o termo mãe solo é uma releitura desse lugar, que as próprias mulheres fazem da sua condição de mãe e de exercer a maternidade com a ausência dos pais, que pode se dar de várias formas”.
Veja mais informações no link original (contém áudio veiculado na Rádio) ou lendo a matéria na íntegra a seguir:
Link original: https://jornal.usp.br/radio-usp/conceito-de-maes-solo-ajuda-a-entender-novo-arranjo-familiar-nas-periferias-de-sao-paulo/
Matéria na Íntegra
Ouça a entrevista completa no link a acima do Jornal da USP no Ar
Uma pesquisa que está sendo realizada pela Universidade de São Paulo, intitulada Novas Formações de Vida Coletiva nas Periferias de São Paulo: Mães Solo, Pais Ausentes, Violência e Circulação de Moradias, tem o objetivo de entender as mudanças nas formações familiares e a composição dos grupos domésticos nas periferias da cidade de São Paulo. Giane Silvestre, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP e uma das organizadoras, explica o processo de estruturação do projeto e quais as finalidades que o programa busca.
Organização do projeto
O projeto, iniciado em 2023 com financiamento da Fundação Tide Setubal, possui uma projeção de duração de um pouco mais de um ano, a depender da disponibilidade dos responsáveis. A pesquisadora principal é Teresa Caldeira, professora da Universidade da Califórnia, que possui um trabalho voltado para as periferias de São Paulo há mais de 40 anos — analisando a dinâmica da vida, das moradias e da violência nesses espaços.
Além de Giane e Teresa, o professor de Sociologia da USP, Sérgio Adorno, e a pesquisadora Maria Gorete também fazem parte da coordenação e gestão da pesquisa. Durante o primeiro semestre eles realizaram um processo seletivo, no qual foram selecionados quatro pesquisadores já graduados e que tivessem uma trajetória em periferias. Esse processo, segundo a pesquisadora, teve como principal objetivo envolver e dar oportunidades para pesquisadores formados que estavam atuando em outras áreas no mercado de trabalho.
“A gente montou um time de quatro pesquisadores que estão fazendo coleta de dados agora no segundo semestre. Durante o primeiro eles foram preparados a partir da leitura de teorias e treinamentos sobre técnicas de pesquisa e entrevistas. Esse trabalho de campo é todo feito por meio de entrevistas e observações, portanto, é uma pesquisa predominantemente qualitativa”, explica Giane.
Objetivos do estudo
Conforme a pesquisadora, um estudo realizado entre os anos 1960 e 1970 indicou que, até o começo dos anos 1980, existia um arranjo familiar nuclear nas periferias, isto é, existiam papéis bem definidos: o pai era o provedor e a mãe era uma complementação de renda — isto quando trabalhava fora. Ela também cita um modelo de autoconstrução das famílias, que buscavam seu espaço para se organizar, muitas vezes construindo seu próprio imóvel, e isso ajudava na fixação desse arranjo familiar na periferia. “Isso tem se transformado radicalmente nos últimos anos e passou a se ver mais circulação de pessoas e moradias. O aluguel substituiu o modelo da autoconstrução familiar, o que possibilitou esse maior fluxo nas periferias.” Giane ainda completa que essa realidade é responsável por mudar o arranjo familiar periférico.
“O termo mãe solo é uma releitura desse lugar, que as próprias mulheres fazem da sua condição de mãe e de exercer a maternidade com a ausência dos pais, que pode se dar de várias formas”, comenta a especialista. Ela acrescenta que esse novo termo da literatura, mãe solo, corrigiu a expressão mãe solteira, que estigmatizava a mulher de forma negativa — colocando-a como um sujeito passivo de um processo social. Giane diz que o protagonismo das mulheres nessa nova configuração dos arranjos familiares se dá muitas vezes por opção, superando a visão pejorativa de antigamente, na qual as mulheres eram abandonadas e ficavam em uma condição de fragilidade socioemocional.
A pesquisadora comenta que os dados de campo e os estatísticos demonstram que a concepção popular de que o modelo nuclear de família predomina no País está errada. “Esse padrão pode ter sido predominante por um tempo na sociedade, mas a mulher sempre teve um protagonismo nas rendas domésticas”, comenta. Por fim, Giane ressalta que a pesquisa tem o objetivo de, após sua conclusão, embasar políticas públicas aderentes à realidade da população periférica, levando em conta a dificuldade para uma mãe solo conseguir se consolidar no mercado de trabalho: “A gente espera contribuir com essa pesquisa no embasamento de políticas de educação, cuidados, infância e no protagonismo dessas mulheres”.
Leia mais: