Análise de plataformas online ajuda a compreender resultado das urnas em São Paulo
17/10/2024
O desempenho das candidaturas nas plataformas online ajuda a compreender o resultado verificado nas urnas na capital paulista no último 6 de outubro. O eleitorado paulistano mostrou-se bastante dividido entre os candidatos à prefeitura, separados por uma estreita diferença de votos (menos de 1%). Pouco mais de 25 mil votos deram a liderança a Ricardo Nunes (PSDB) e não a Guilherme Boulos (PSOL). Boulos, por sua vez, teve apenas 56 mil votos a mais que o terceiro colocado, Pablo Marçal (PRTB).
Nas redes, Pablo Marçal manteve-se à frente dos seus adversários, ao longo de toda a campanha. Mesmo com suas contas reserva, chegou ao primeiro turno acumulando a maior soma de seguidores (7,315 milhões) e o maior percentual de interações, 89% entre os candidatos, de modo que responde pelas 22 publicações que mais engajaram os usuários das plataformas nesta reta final.
Marçal e seus temas
Ao analisar os temas que mais incitaram interações dos seus seguidores, observamos que Marçal, guardadas as devidas proporções, buscou construir uma narrativa semelhante à de Bolsonaro, em 2018. Exímio operador do Instagram, o assunto que mais rendeu interações para o seu perfil foi o episódio da cadeirada no debate da TV Cultura, no dia 14 de setembro. O candidato explorou de modo sensacionalista o evento, colocando-se como vítima, mostrando-se hospitalizado e argumentando acerca de uma conspiração contra ele, tentando equipará-lo ao episódio da facada recebida por Bolsonaro.
Na sequência, o candidato se movimentou na tentativa de reunificar o campo da direita. Usou as redes para fazer menções diretas ao ex-presidente, contemporizar a divergência com Silas Malafaia e informar que vinha realizando um jejum religioso, flertando assim com o eleitor cristão. Procurou também se mostrar mais moderado, desculpou-se com os eleitores e solicitou “pixes” aos seus apoiadores, já que se posiciona contra o financiamento público das campanhas. Por fim, Marçal teve mais uma vez suas contas suspensas pela justiça eleitoral, devido à divulgação de documento falso sobre Boulos, o que pode configurar grave crime eleitoral e levar à impugnação de sua candidatura.
Estes são os destaques do relatório nº 3 da equipe de pesquisadores que realiza o monitoramento da disputa eleitoral na capital paulista em 2024, observando os temas e candidaturas que geraram maior engajamento nas mídias sociais, lançado nesta quarta-feira, 16 de outubro.
O monitoramento é realizado no âmbito do projeto “Criminalidade, Insegurança e Legitimidade: uma abordagem transdisciplinar” (CIL), iniciativa conjunta de pesquisadores ligados a duas diferentes unidades da USP: o Instituto de Ciências Matemáticas e Computação de São Carlos e o Núcleo de Estudos da Violência (NEV), sediado na FFLCH, em São Paulo, com fomento por Chamada Temática da Fapesp.
Clique aqui para acessar o documento.
Metodologia
Utilizando a plataforma Fanpage Karma, que permite a extração de conteúdos de cinco mídias sociais distintas (Instagram, Facebook, TikTok, YouTube e X*), a equipe realiza uma análise quantitativa e qualitativa da atuação nas redes dos seguintes perfis:
• Dos/as candidatos/as à prefeitura de São Paulo;
• Dos/as candidatos/as à vereança da cidade oriundos/as das forças de segurança pública,
• Dos/as candidatos/as à vereança autodeclarados pretos/as e pardos/as/;
• Dos/as candidatos/as à vereança jovens, que possuem entre 18 e 29 anos.
• Dos/as chamados influencers, com relevância no debate sobre política nas redes.
• Das agências de checagem de fatos;
• Das mídias tradicionais e nativas digitais
A equipe pretende lançar novos números, com destaques sobre os números mais chamativos dentro do perfil dos candidatos observados, até a finalização do ciclo eleitoral, no final deste mês. O boletim nº 1 saiu no dia 11 de setembro (clique para ler) e o nº 2, no dia 27 do mesmo mês (clique para ler).
Sobre o projeto
O CIL é um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com o objetivo desenvolver metodologias analíticas inovadoras para investigar fenômenos complexos relacionados à criminalidade e à persistência do sentimento de insegurança na população, reverberado e amplificado pelas mídias sociais.
Uma de suas frentes é o Observatório da Legitimidade Democrática (OBLED), que visa analisar as relações entre a legitimidade democrática e a opinião pública, monitorando as representações e discursos sobre instituições, segurança pública e direitos humanos nas mídias sociais.
Considerando que as eleições são um mecanismo central para as democracias representativas, responsáveis por aferir e renovar a legitimidade institucional, e configuram um momento de ampliação e intensificação do debate político, propomos o acompanhamento do processo eleitoral municipal de 2024 através das mídias sociais. Com esse esforço, buscamos observar se, e de que forma, os temas mencionados se relacionam nos discursos políticos e como repercutem entre o eleitorado conectado.