NEV na mídia | O Assunto (#1.179) – “Caso Marielle – O Estado dentro do crime”
27/03/2024
Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), participou do episódio 1.179 do programa de podcast “O Assunto”, apresentado pela jornalista Natuza Nery, da plataforma G1. O episódio foi disponibilizado ontem, 26 de março, pelo Youtube e pelo Spotify, tratando das repercussões de Operação da […]
Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), participou do episódio 1.179 do programa de podcast “O Assunto”, apresentado pela jornalista Natuza Nery, da plataforma G1. O episódio foi disponibilizado ontem, 26 de março, pelo Youtube e pelo Spotify, tratando das repercussões de Operação da Polícia Federal realizada no último domingo, cumprindo mandados de prisão e de busca e apreensão na apuração do homicídio de Marielle Franco e Anderson Gomes. O jornalista Cesar Tralli é o outro interlocutor sobre o tema, na primeira metade do programa.
“Sim, é um conluio que já tinha história e que já implicava com uma série de atores ligados ao jogo do bicho. Tem dois homicídios que ele narra em especial, o do miliciano Geraldo Pereira, sargento e filho do bicho Escafura, e o do Falco, presidente da Portela, que foi cometido por esses matadores especializados e que as operações especiais da polícia deixaram de investigar. São homicídios antigos que todo mundo sabia quem cometia: aquelas pessoas envolvidas com o escritório do crime especializadas em matar, coisa que já acontecia há uma década”, comenta Manso em um dos trechos iniciais da conversa.
Em outro momento do podcast, Natuza Nery questiona Manso a respeito das dinâmicas entre figuras que estão relacionadas na investigação. O pesquisador do Núcleo responde: “Eu, que sou um paulista que caiu de paraquedas para investigar a cena das milícias no Rio de Janeiro, fiquei muito surpreendido. Porque aqui em São Paulo, a divisão de homicídios tem uma piada interna na polícia, que é o lugar para onde vão os policiais mais idealistas, porque “defunto não praga propina”. Então, quem quer ganhar dinheiro vai para as outras especializadas, ligadas a roubos de banco, a crimes contra o patrimônio, porque a divisão de crimes é para os policiais idealistas. No Rio de Janeiro, eles inventaram uma forma de precificar a inocência, de precificar a venda de sentença. Se você é acusado de um crime, você consegue comprar sua inocência. Se você tem um inimigo, você consegue embuchar (termo explicado por Manso que se refere a imputar o crime em outro policial e ele ser preso) aquele homicídio para as costas do seu inimigo”.
Link do episódio no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=Bp25jxTkEkY&t=1920s
Link do episódio no Spotify: https://open.spotify.com/episode/1VXxpb93wmo5nRHuAL1M6Y
Descrição do episódio |
A relação íntima entre milícias, policiais e políticos foi desnudada com a prisão dos três suspeitos da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Domingos Brazão (conselheiro do TCU-RJ) e Chiquinho Brazão (deputado federal) são apontados pela Polícia Federal como mentores do assassinato da vereadora. E Rivaldo Barbosa (ex-chefe da Polícia Civil do RJ), foi quem planejou o crime, segundo os investigadores. O trio evidencia a presença enraizada de agentes públicos no crime organizado, em um Estado “loteado”, como aponta César Tralli em conversa com Natuza Nery neste episódio. “Rivaldo Barbosa agora é um fio de novelo que vai se desdobrar em outros inquéritos”, diz Tralli, jornalista e apresentador da TV Globo e da GloboNews. Tralli revela que novas investigações devem ser abertas para apurar a promiscuidade entre criminosos e agentes públicos. Participa também Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP. Autor do livro “República das Milícias”, Bruno indica como um depoimento de Orlando Curicica em 2018 – mesmo ano da morte de Marielle – evidenciou o poder de influência das milícias dentro da polícia do RJ. Bruno desenha também o histórico da relação entre milícia e política, e avalia como o esclarecimento do assassinato da vereadora pode ser uma oportunidade para reorganizar o Rio de Janeiro.