NEV na mídia | Podcast Três Por Quatro: “A fé e o fuzil” ocupam espaços desatendidos pelo Estado?

26/02/2024

Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), debateu seu livro “A fé e o fuzil: Crime e religião no Brasil do século XXI” com os apresentadores do podcast Três por Quatro, produzido pelo jornal Brasil de Fato, em seu episódio 16. A questão que dá título […]

Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), debateu seu livro “A fé e o fuzil: Crime e religião no Brasil do século XXI” com os apresentadores do podcast Três por Quatro, produzido pelo jornal Brasil de Fato, em seu episódio 16. A questão que dá título ao episódio é: como a religião e o crime ocupam espaços desatendidos pelo Estado?

“Com o ceticismo diante da política, a guerra no lugar da política, você não acredita mais em um projeto de futuro, você precisa sobreviver no presente”, comenta o autor.

Link original: https://open.spotify.com/episode/4YlqK7UiaO3pBh5BVj0PLE

Descrição do Podcast

Nesta edição do podcast Três por Quatro, do Brasil de Fato, o assunto é o livro “A fé e o fuzil: Crime e religião no Brasil do século XXI” (Todavia), do jornalista Bruno Paes Manso, que narra a partir de depoimentos a história de ex-criminosos que tiveram a vida transformada pelo contato com a religião.

“A fé e o fuzil: Crime e religião no Brasil do século XXI” retoma aspectos das outras produções de Manso, como “A Guerra PCC e o mundo do crime no Brasil” (Todavia), produzido junto com Camila Nunes Dias, e “A República das Milícias” (Todavia).

Em 2020, uma pesquisa do Datafolha indicou que ao menos 80% da população brasileira se declarava cristã, destes 50% católica, 31% evangélica; enquanto 10% afirmaram não ter religião. Segundo ele, o país vive o reflexo de “uma nova crença com essa capacidade de acreditar, de ter fé, e de reformatar a cabeça, como se você desse um reboot na sua programação do dia a dia e se transformasse em uma outra coisa”.

Ao Três por Quatro, o comentarista e ex-presidente do PT, José Genoino afirma que, a mistura entre religião e crime organizado se dá na tentativa de “construir uma justificativa moral” para seus atos: “É uma mistura de messianismo, com religiosidade e com uma supremacia do indivíduo que é corajoso”.

Do moralismo ao bolsonarismo

“Eu faço a comparação das facções prisionais com as igrejas, porque nesse sentido elas são parecidas, tanto as igrejas como as facções, elas passam a partir de um novo discurso trabalhando uma nova crença a mudar comportamento”, afirma o autor Bruno Paes Manso.

Tanto o neopentecostalismo capitaneado por Edir Macedo,  quanto a organização das facções criminosas, com o PCC, pregam “uma nova crença para exorcizar o espírito atrasado, rural e letrado, para criar um novo espírito moderno capaz de consumir, capaz de fazer parte do mercado”.

Manso aponta que esse processo é um resultado do ceticismo da população “a esquerda representava um projeto de futuro a própria redemocratização, você acreditava numa reforma que vinha no futuro. Você se engajava nessa causa e lutava para que um país mais justo existisse depois de 30 anos.  Com o ceticismo diante da política, a guerra no lugar da política, você não acredita mais em um projeto de futuro, você precisa sobreviver no presente”.

“Essa nova crença de repente passa a se popularizar muito rapidamente via televisão, via igrejinhas, via um empreendimento espiritual”, o que, segundo Manso, resulta na eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2018.