Apenas dois dos deputados mais ativos no twitter estão entre os mais influentes do congresso
28/01/2020
Por Pedro Benetti Infografia Erick Gómez Nieto Nos últimos anos, as redes sociais têm sido consideradas cada vez mais importantes na compreensão dos debates políticos, tanto no Brasil quanto internacionalmente. As relações entre tecnologia e política são objeto de crescente interesse por parte de pesquisadores e também por outros setores da sociedade, de jornalistas a […]
Por Pedro Benetti
Infografia Erick Gómez Nieto
Nos últimos anos, as redes sociais têm sido consideradas cada vez mais importantes na compreensão dos debates políticos, tanto no Brasil quanto internacionalmente. As relações entre tecnologia e política são objeto de crescente interesse por parte de pesquisadores e também por outros setores da sociedade, de jornalistas a agências de conteúdo voltadas ao mercado. As eleições nacionais de 2018 foram um marco nessa direção, ao resultarem na vitória de um candidato com reduzido tempo de televisão, cuja estratégia de comunicação na campanha baseou-se quase inteiramente no uso de plataformas digitais.
Nesse sentido, uma das novas linhas de investigação da pesquisa Cepid-Fapesp, “Análise de representações sociais e discursos sobre segurança pública, violência, direitos humanos e democracia”, voltará seu olhar para a maneira como os representantes políticos produzem sua comunicação digital no que diz respeito a essas questões. Ao analisar as publicações de deputados federais e de senadores no Twitter, os pesquisadores do núcleo têm o objetivo de encontrar o vocabulário, as estratégias de argumentação, as interações e os grupos que se constituem no debate sobre segurança, punição, violência e direitos humanos. Os primeiros resultados se basearão na interpretação de uma vasta quantidade de informação, reunindo todas as publicações de todos os representantes no Congresso Nacional que tem conta no Twitter (436 deputados federais e 78 senadores) ao longo do ano de 2019.
Como em outras pesquisas do núcleo, os esforços serão conduzidos por uma equipe multidisciplinar, com pesquisadores formados em Ciência da Computação, Psicologia, Sociologia e Ciência Política. Pretende-se, assim, refletir não apenas sobre o conteúdo selecionado, mas também sobre a própria ferramenta, bem como sobre as soluções metodológicas necessárias a este tipo de trabalho. Se, por um lado, há na academia certa euforia em relação ao potencial explicativo das redes sociais e aos ganhos trazidos à ciência pelo desenvolvimento tecnológico, pesquisadores do NEV também estão atentos à reflexão crítica que tem sido produzida sobre os efeitos políticos e sociais da acelerada expansão de novas tecnologias e seus empregos na assim chamada esfera pública.
Informações preliminares da pesquisa apontam para um uso bastante mais intenso do Twitter entre os deputados do que entre senadores. O senador que mais vezes publicou na plataforma em 2019 (Humberto Costa – PT/PE) não constaria sequer entre os 20 deputados que mais utilizaram suas contas. Dos 10 deputados mais ativos na rede, 5 são da região sudeste, 2 da sul e da nordeste e 1 da centro-oeste. Dentre os 10 senadores mais ativos, a distribuição geográfica é mais dispersa, sendo 3 da região centro-oeste, 2 da sul, da nordeste e da norte e apenas um da sudeste. As dificuldades em trabalhar com a enorme variedade de partidos representados no congresso oferecem, neste caso, a oportunidade de buscar aproximações e compatibilidades entre representantes de diferentes legendas, seja por meio de suas interações, seja por meio da similaridade em suas estratégias de comunicação.
Os resultados parciais apresentados até aqui apontam diversas possibilidades de análise, que se somam a outros trabalhos existentes na tentativa de compreender a dinâmica parlamentar e a maneira como se constroem as relações entre representantes e representados. É curioso perceber, por exemplo, que apenas 2 dos deputados e 4 dos senadores mais ativos no Twitter constam na lista dos 100 parlamentares mais influentes do congresso, elaborada anualmente pelo Diap. Estas e outras questões serão objeto de análises cada vez mais aprofundadas por parte da equipe, que divulgará também na newsletter parte dos resultados alcançados.
Bibliografia recomendada:
SLOAN, Luke; QUAN-HAASE, Anabel (Ed.). The SAGE handbook of social media research methods. Sage, 2017.