Impunidade no caso Marielle: até quando?

15/03/2022

Márcia Foletto/Agência O Globo

Deixando para trás noites de terror e atrocidade
Eu me levanto
Em direção a um novo dia de intensa claridade
Eu me levanto
Trazendo comigo o dom de meus antepassados,
Eu carrego o sonho e a esperança do homem escravizado.
E assim, eu me levanto
Eu me levanto
Eu me levanto.

(Maya Angelou)

A vereadora Marielle Franco foi assassinada na noite do dia 14 de março de 2018, juntamente com seu motorista, Anderson Gomes, na cidade do Rio de Janeiro. No dia seguinte, milhares de pessoas foram às ruas exigindo justiça, tanto no Rio, quanto em outras cidades do país e do mundo. O “Amanhecer por Marielle”, em abril de 2018, alcançou 80 cidades em 8 diferentes países. Em setembro de 2018, o caso foi denunciado em reunião com a Alta Comissária Adjunta da ONU para Direitos Humanos, em Genebra, na Suíça. É inegável o destaque que o nome Marielle Franco ganhou em termos dos Direitos Humanos e da defesa da Democracia em nosso país e mesmo em âmbito internacional. Como diz a poesia de Maya Angelou, aqui evocada: “Você pode me arrastar no pó, mas ainda assim, como o pó, eu vou me levantar”. O legado de Marielle Franco atravessou as fronteiras e continua a inspirar sementes não apenas no Rio de Janeiro, mas por todo o mundo.

Quatro anos depois, a principal questão sobre o assassinado continua sem solução: afinal, quem mandou matar Marielle e Anderson? Desde então, já ocorreram cinco mudanças de delegados, três diferentes grupos de promotores ficaram à frente da investigação no Ministério Público do Rio de Janeiro, mas insuficientes respostas foram produzidas. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram denunciados pela execução do assassinato, sem que o Ministério Público apontasse os motivos da execução ou a identidade do possível mandante do crime.
O assassinato de uma vereadora eleita, negra e lésbica, durante o exercício do seu mandato, já é um indício inequívoco da fragilidade da Democracia brasileira. No entanto, a morosidade e as inconsistências nas investigações a enfraquecem ainda mais, ao renovarem a sensação de impunidade e enfraquecerem a legitimidade das instituições responsáveis pela justiça e pela segurança pública no país. Se um assassinato de uma autoridade é tratado de maneira displicente e ineficaz, o que pensar dos crimes cotidianos cometidos contra cidadãos comuns? Nos perguntamos qual razão sustenta a demora no julgamento dos executores? Por que não se aponta um prazo para conclusão das investigações?

A ausência de respostas para essas e outras questões alimenta a insegurança social e política, bem como estimula as forças autoritárias em nosso país. Quem mandou matar Marielle Franco e Anderson Gomes? Esse questionamento coletivo ecoa por diversos cantos do mundo e é cada vez mais urgente para os familiares e amigos de Marielle Franco e Anderson Gomes, mas igualmente para a sociedade brasileira e para o fortalecimento das instituições democráticas no país. Milhares de vozes clamam pela elucidação plena desse crime atroz:

“Como a esperança emergindo na desgraça, assim eu vou me levantar.”

Conheça mais sobre Marielle Franco, seu legado e suas sementes em: https://www.institutomariellefranco.org/