NEV na mídia | Reconversa: Reinaldo e Walfrido conversam com Bruno Paes Manso, autor de Entre a Fé e o Fuzil | Reconversa 45

13/03/2024

Bruno Paes Manso, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), foi o convidado do programa “Reconversa” número 45, lançado no dia 12 de março, para falar sobre o seu lançamento mais recente “A fé e o fuzil: Crime e religião no Brasil do século XXI”.

Veja a seguir uma fala de Manso durante o programa:

“Para mim, uma coisa que a gente viu no processo de redemocratização no Brasil foi a ideia de que a política e o próprio movimento eclesiástico de base iriam trabalhar pela reforma de um Estado mais justo, que levasse e talvez transformasse o Brasil em uma social democracia, numa Suécia, uma Dinamarca, com diversidade e igualdade. Com os partidos de esquerda, o Banco Central independente ou não, entender qual o papel do estado, você tinha uma ideia de que a civilidade viria de cima pra baixo.

O que começou a acontecer foi que com os limites fiscais, os problemas do Estado e a força do mercado, as pessoas começaram a perceber que para sobreviver na cidade, você tem que ter, sobretudo, dinheiro. Dinheiro é oxigênio, sem ele, você vai morar na rua, você não tem o que comer, você não tem respeito, é morto pela polícia, é esculachado e etc.

Os evangélicos começam a entrar, perceber e a oferecer uma solução para você participar desse mercado: a partir do momento que você se converte, você passa a gostar de si próprio, isso para mim é o grande diferencial. Você se desmarginaliza e passa a amar si próprio, de que ‘Se você ama Cristo, Cristo te ama’, então você desenvolve uma autoestima elevada. Você faz o networking, faz uma espécie de maçonaria de pobre se ajudando, você cria uma educação financeira a partir da teologia da prosperidade e você tem mais capacidade e mais foco para sobreviver no mercado, são soluções para a miséria.

Mas, a solução política é muito complicada, porque você enxerga o Estado muitas vezes como algo que atrapalha. Você não pensa no Estado como uma entidade para garantir o contrato coletivo. O Estado passa a ser aquele ente que defende e acredita nos valores que estão em você, então você vai tomar o Estado para defender a sua facção, os seus sócios e empreendedores, porque você está em uma batalha espiritual, isso estando voltado ao mercado, voltado ao desenvolvimento. Em um momento que a Amazônia queima, que o consumo é um problema crítico, volta-se a um empreendedorismo de fé, a um desenvolvimento de fé, não ao projeto de uma sociedade futura, mas focado na sobrevivência no presente com um mercado muito violento.”

 

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