Agenda NEV | Mesa de debates “Populismo, Estado e instituições: a democracia está em risco?” no dia 13 de setembro, 10h

23/08/2022

Atenção! Data do evento atualizada em 31 de agosto.

O Núcleo de Estudos da Violência da USP (NEV-USP) realiza, dia 13 de setembro de 2022, terça-feira, às 10h, uma mesa de debates online, transmitida pelo canal do NEV no Youtube (http://youtube.com/nevuspvideos), em torno da questão “Populismo, Estado e instituições: a democracia está em risco?”

A atividade contará com a presença de Lucy Oliveira, professora de Ciência Política Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Pedro Benetti, Professor de Ciência Política da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador associado do NEV, com a mediação de Rafael Rezende, pesquisador de pós-doutorado da Universidade da Cidadania, na UFRJ, e Natasha Bachini, pesquisadora de pós-doutorado do NEV (Programa CEPID – Fapesp), com a Coordenação de Marcos César Alvarez (NEV) compondo uma série de discussões intitulada “Populismo, Democracia e Autoritarismo: relações conceituais e empíricas” (leia mais sobre a premissa e as referências teóricas abaixo). Haverá emissão de certificados para quem acompanhar o evento ao vivo. As instruções serão oferecidas no início das atividades, no próprio canal de transmissão.

A iniciativa, organizada por Bachini e Rezende, surgiu a partir das seguintes questões:

– A conformação de movimentos populistas necessariamente implica riscos à democracia?

– Qual o papel da mobilização popular em um regime democrático?

– Quais as relações possíveis entre lideranças populistas e instituições?

Assim, esta mesa tem como propósito discutir a relação entre lideranças populistas, Estado de direito e instituições democráticas, bem como as possíveis consequências políticas da mobilização popular e das ferramentas discursivas populistas.

 

Serviço

Mesa de debate “Populismo, Estado e instituições: a democracia está em risco?”

Debatedores: Lucy Oliveira e Pedro Rolo Benetti

Mediadores: Natasha Bachini e Rafael Rezende

Quando: 13 de setembro, terça-feira, 10h*

Onde: online, canal do youtube do NEV (youtube.com/nevuspvideos)

Evento gratuito, com emissão de certificados para participantes ao vivo

 

*Originalmente programado para 1º de setembro, o evento foi adiado em 31 de agosto, em razão de imprevisto por parte de uma pessoa convidada 

 


Saiba mais

Sobre os debatedores

Lucy Oliveira: Realiza pesquisas na área da Comunicação Política, presidencialismo, relação Executivo-Legislativo e agenda setting, tendo como foco as agendas conformadas pelo campo político e midiático, perpassando ainda temas como campanhas eleitorais, democracia e propaganda negativa. Professora Adjunta de Ciência Política no Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (DCSo/UFSCar) e líder do Núcleo de Estudos Integrados em Democracia, Comunicação e Sociedade (DECOS/UFSCar).

 

Pedro Rolo Benetti: Bacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, mestre em Ciência Política pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP-UERJ) e doutor pela mesma instituição. Bolsista sanduíche da CAPES em estágio doutoral realizado na universidade Sorbonne Nouvelle – Paris III. Foi analista de pesquisa da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e de junho a dezembro de 2015 foi pesquisador do Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul (IPPDH). Professor da UERJ, foi pesquisador de pós-doutorado do NEV pelo programa CEPID-FAPESP entre 2019 e 2021, tendo se tornado pesquisador associado no último ano.

 

Mediadores:

Natasha Bachini: Pesquisadora de pós-doutorado no NEV. Doutora em Sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ). Pesquisadora associada ao Núcleo de Estudos de Teoria Social e América Latina (NETSAL) e ao Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP), ambos situados no IESP.-UERJ. Mestra em Ciências Sociais pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Idealizadora e ex-coordenadora do projeto M Facebook, do Manchetômetro (LEMEP). Lecionou na Fundação Escola de Sociologia e Política (FESPSP), no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e no Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU).

 

Rafael Rezende: Doutor e mestre em sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio De Janeiro (IESP-UERJ). Bacharel em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO). Bolsista do Fórum de Ciência e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FCC/UFRJ). Suas principais áreas de atuação são a sociologia política e as relações internacionais, com especial atenção a temas como política latino-americana, movimentos sociais, protestos, populismo e imigração.

 

 

Premissas do ciclo de debates Populismo”: entre a imprecisão e a pertinência de um conceito”

Natasha Bachini e Rafael Rezende

O emprego da noção de populismo surgiu no século XIX como parte de uma tentativa de explicar o The People’s Party, surgido nos Estados Unidos, e o movimento Narodnik, organizado no Império Russo. Desde sua origem, o termo é objeto de disputa teórica e, frequentemente, está carregado de uma axiologia negativa (LACLAU, 2013). Na América Latina, o debate sobre o conceito foi iniciado nos anos 1960, objetivando prover sentido a regimes políticos locais que não podiam ser explicados pelos tradicionais conceitos de socialismo, fascismo ou democracia capitalista. Nomes como Gino Germani, Torcuato Di Tella, Octavio Ianni e Francisco Weffort dedicaram parte dos seus estudos ao tema. Da mesma maneira, apesar de sua relativamente longa permanência temporal, nunca foi possível estabelecer um consenso sobre o uso do conceito. Afinal, populismo é um regime, uma ideologia ou uma lógica discursiva? Sua ampla utilização como categoria nativa, em especial nos meios de comunicação, também é um obstáculo para um uso mais preciso do conceito como categoria analítica.

Como o próprio conceito sugere, comumente entende-se o populismo como uma forma de fazer política voltada a responder aos anseios do povo dentro de um enquadramento antissistêmico. Entretanto, as convergências quase sempre param por aí. Há quem pense o populismo como redução do debate na esfera pública, como mobilização de emoções para acentuar fronteiras políticas, como comunicação livre de mediações entre povo e líder, e ainda como soluções personalistas e, não raro, autoritárias.

 Neste século, esse dilema voltou a ser evidenciados. A eleição de representantes considerados antiestablishment, o surgimento de novos nacionalismos e a eclosão de eventos de protestos relacionados à uma onda de indignação com os sistemas políticos colocou o populismo de volta à prateleira dos conceitos mais empregados por estudiosos e analistas. Não obstante, o emprego do populismo segue sem qualquer tipo de consenso mínimo que permita distinguir claramente que tipo de processos o conceito pretende explicar, bem como o que distingue esses processos de outros fenômenos, inclusive aqueles chamados de populismos clássicos. 

 No entanto, um fenômeno dinamiza e confere nuances particulares ao populismo contemporâneo: a imersão ou plataformização digital (VAN DIJCK et al, 2018). Numa conjuntura em que as relações sociais são cada vez mais mediadas por plataformas de mídias sociais, as tecnologias digitais se tornaram um recurso central para a comunicação política, sendo utilizadas para informar, discutir, mobilizar e organizar pessoas em prol de candidaturas, projetos e causas. Tendo em vista principalmente o caráter personalista, emocional, direto e o alcance massivo da comunicação pelas mídias sociais, levantou-se a hipótese sobre a afinidade eletiva entre as mídias sociais e o populismo, de modo que a apropriação das redes por atores políticos que promovem conteúdos antissistêmicos foi denominada como populismo digital (GERBAUDO, 2018, entre outros).

 Esta narrativa antissistêmica vem se caracterizando, além da deslegitimação das instituições de controle sistema democrático, como o Judiciário e o Legislativo, consideradas corrompidas, assim como o próprio processo eleitoral em si, por sucessivos ataques aos direitos humanos e das minorias, em concomitância à defesa do uso da violência, privada e estatal, como solução para os problemas da desigualdade social e da criminalidade, de modo a reforçar discursos autoritários e punitivistas.

 Na tentativa de compreender esse processo, e, ao mesmo tempo, a pertinência e os limites do conceito de populismo para explicá-lo, convidamos ao debate pesquisadores/as latino-americanos que se dedicam ao seu estudo. Propomos a discussão a partir de duas mesas, descritas a seguir.