O que o governo não poderia prever é que a morte de Faustão desencadearia em uma ataque a ônibus no Rio de Janeiro. A ação dos criminosos afetou milhares de cariocas que tentavam voltar para casa após um dia longo de trabalho.
Agora, no começo de novembro, a PF prendeu o miliciano Taillon de Alcântara Pereira Barbosa. Ele era o alvo de criminosos que o confundiram com o médico Perseu Ribeiro Almeida. Perseu e outros três médicos foram alvejados por criminosos na Barra da Tijuca; três morreram e um ficou ferido.
São Paulo
Diferentemente do que ocorre no Rio de Janeiro, em São Paulo o governo federal tem se preocupado com a ação de organizações criminosas nos aeroportos. Os grupos utilizam o grande número de pessoas entrando e saindo do país para o envio de drogas para o exterior, em especial para a Europa.
As goianas Kátyna Baía e Jeanne Paollini ficaram 38 dias presas na Alemanha após terem as suas bagagens trocadas por malas cheias de drogas. O caso chamou a atenção de todo o país, principalmente pela fragilidade da segurança no Aeroporto de Guarulhos, um dos principais do Brasil. De acordo com informações da PF, a troca das bagagens teria sido ordenada por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O pesquisador Leonardo Ostronoff esclarece que grupos criminosos de São Paulo são responsáveis por grande parte das drogas que entram e saem do país, mas que, para isso, as organizações contam com o apoio de envio de mercadorias por meio de portos e rodovias.
“Para se fazer o tráfico de drogas, como qualquer produto, você tem uma logística, então você precisa trazer isso dos países produtores, Bolívia, Peru, Colômbia. Isso passa pelo Paraguai, portanto o controle da fronteira do Paraguai é fundamental, sobretudo com o Mato Grosso do Sul e Paraná, e é o PCC que controla essa fronteira já há alguns anos”, expõe Leonardo Ostronoff.
Inteligência
Para o pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, o governo federal precisa investir em ações de inteligência nas fronteiras e rodovias para controlar a entrada e saída de drogas.
“Melhorar o policiamento nas rodovias, dar mais estrutura para essas polícias – e a estrutura não é a arma, é estrutura em termos de inteligência, é estrutura em termos de profissionais melhores remunerados, melhores condições de trabalho para essas polícias. Então, melhorar a fiscalização nas rodovias, trabalhar com mais inteligência e com mais estrutura no sentido dos recursos humanos, numa melhor situação, seria um caminho melhor”, pontua Leonardo Ostronoff, sobre como o governo poderia combater o avanço do tráfico.
Adriana Marques, da UFRJ, afirma que as Forças Armadas já atuam nas fronteiras brasileiras e que a presença delas não trouxe um resultado significativo para a diminuição do tráfico de armas e drogas no país. “O fato de ter atribuído o poder de polícia para as Forças Armadas na área de fronteira não fez com que a entrada de armas e drogas diminuísse significativamente no Brasil”, acrescenta.
Ações afirmativas
A pesquisadora da UFRJ enfatiza que para combater a entrada de drogas no Brasil por meio dos portos, o governo federal tem que começar a estudar a necessidade de criação de uma Guarda Costeira.
“O que não temos no Brasil são organizações que tradicionalmente fazem esse papel. Nós temos que ter uma guarda nacional, uma guarda costeira. Em algum momento, o país vai ter que discutir isso, o que são atribuições das Forças Armadas e de segurança pública”, afirmou Adriana Marques.
O pesquisador Leonardo Ostronoff acrescenta que, em vez de mais uma GLO, o governo federal precisa intervir em ações integradas para evitar o avanço do crime organizado, tanto no Rio como em São Paulo.
“Deixar a população participar e opinar, e parar de pensar a segurança pública apenas como algo militar, como algo apenas policial. Fazer como foi feito em outras instâncias, saúde e educação, democratizar o debate, chamar conselhos e a sociedade civil”, defende o pesquisador.