Nota em apoio à pesquisadora Carolina Soares

02/02/2022

A equipe do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo repudia as agressões e ofensas feitas por integrantes do atual Governo Federal contra a pesquisadora Carolina Soares.

Na última quinta-feira, 27 de janeiro, Carolina Soares participou, como convidada, da edição do Jornal Hoje da Rede Globo de televisão. A pesquisadora, que é bacharel em direito pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestranda em Sociologia pelo Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo, foi convidada a comentar uma pauta sobre a política de segurança pública, tema em que tem larga experiência, especialmente em temáticas relacionadas aos direitos das mulheres.

Posteriormente, a participação de Carolina foi alvo de comentários ofensivos e desrespeitosos por integrantes do atual governo federal no Twitter e em outras redes sociais. Além do compartilhamento da imagem da pesquisadora, os comentários foram seguidos de ataques e insultos por vários seguidores, que inclusive chegaram a ameaçar a pesquisadora.

A repercussão do caso motivou uma onda de solidariedade à pesquisadora e a busca para que as redes sociais envolvidas derrubassem esse tipo de material ofensivo. A Rede Globo, durante o Jornal Nacional do dia 27 de janeiro, emitiu uma nota de desagravo, ao repudiar a postura desrespeitosa de membros do governo.

O tom misógino e racista dos comentários – além do profundo desrespeito intelectual para com a pesquisadora – foram combustível para a onda de ataques, ameaças e ofensas que se seguiu. A violência sofrida por Carolina Soares, que é pesquisadora, mulher e negra, é um retrato da nossa sociedade, que tende a desqualificar o conhecimento gerado por mulheres e por pessoas negras. Cabe ressaltar que, nos últimos dois anos, diversos eventos acadêmicos online foram alvos de ataques similares. Em comum, os eventos contaram com mulheres pesquisadoras, professoras e ativistas que tiveram sua experiência e conhecimento desprezados unicamente por seu gênero e aparência física. Para certos setores da sociedade brasileira, mulheres ocupando espaços públicos e produzindo saberes continua a ser uma forma de afronta.

Paralelamente, os temas da segurança pública têm sido com frequência alvo das ações de grupos políticos que buscam desacreditar especialistas na área em favor de manifestações contrárias aos Direitos Humanos. Somadas as agressões misóginas e racistas e as manifestações de descrédito às discussões científicas na área, é a própria Democracia no país que se encontra em causa em cada um desses ataques. É intolerável, deste modo, que agressões desse tipo continuem ocorrendo e tenham apoio de autoridades no exercício de suas funções.

Ciente do nosso papel como centro de pesquisa em Violência e Direitos Humanos e de formação e investigadores em Ciências Sociais, nós, pesquisadores e pesquisadoras do NEV-USP, expressamos nossa solidariedade à Carolina Soares e expressamos nosso repúdio aos ataques e ameaças sofridos no exercício de sua profissão.