O que você precisa saber para não cair em notícias falsas sobre segurança pública

19/10/2018

Análises e entrevistas de pesquisadores do NEV para evitar desinformação na segurança pública.

 

AFP PHOTO / Mauro PIMENTEL

A campanha eleitoral tinha começado há apenas 15 dias e Bruno Paes Manso já alertava à Revista Fórum que a “segurança pública não pode ser discutida com memes e apelo emocional”. É fugindo dessa fórmula de simplificação e se baseando em pesquisas de ponta que o Núcleo de Estudos da Violência seguiu estudando o tema por 30 anos, e nesse período de Eleições, pauta a opinião pública de duas formas: com artigos e entrevistas que explicam a violência política, a relação do crime organizado, as milícias e os discursos de ódio e, segundo, com projetos como o Monitor da Violência, parceria como o G1 e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que perguntou aos presidenciáveis qual era sua principal proposta para a redução de homicídios e para combater a violência contra a mulher.

Estes dois temas são essenciais para esta eleição, mas não são os únicos. O autoritarismo está em voga. Paulo Sérgio Pinheiro e Marcos César Alvarez, fundador e vice-coordenador do NEV, escreveram artigo para o El País dizendo que “retomar, nessas eleições, a defesa da cidadania e dos direitos humanos é uma escolha histórica na direção da civilização e não do retorno à barbárie da ditadura”. Veja abaixo todas as análises.

Violência política

Sobre os recentes casos de agressões baseados em justificativas políticas, inclusive homicídios, Marcos César Alvarez disse à BCC Brasil estar preocupado com “uma eleição de muitos conflitos e com ao menos um candidato defendendo claramente a violência e (se posicionando) contra os direitos humanos, o que pode estimular atitudes agressivas por parte de seus correligionários”.

Ainda assim, ele explica ao Nexo e ao UOL que não é possível afirmar cientificamente que o número de agressões aumentou, mas que apenas podem estar mais divulgados. À Vice, Alvarez fala que afirmar que a violência é apartidária é tirar a responsabilidade dos candidatos e grupos que a defendem, lembrando do caso de Marielle Franco. “No momento, é a extrema direita, tanto no Brasil quanto no mundo, que defende valores não democráticos e mesmo emprega a violência contra seus supostos inimigos”.

Para a Folha, o sociólogo comenta que quando o candidato Jair Bolsonaro (PSL) diz não controlar seus seguidores, acabar por estimular agressões: “dizer que não controla não deixa de ser um incentivo; manifestar neutralidade é permitir que isso ocorra”.

Antes de Bolsonaro ser esfaqueado, o coordenador do NEV, Sérgio Adorno, advertia para a Folha sobre os discursos agressivos. “Quem apedreja hoje poder ser o apedrejado amanhã”.

Continuando a questão da violência política, Paes Manso comenta para o UOL sobre a violência com jornalistas e dá destaque para os linchamentos virtuais. Ariadne Natal, pesquisadora do NEV,  completa, ao falar para o Estado de Minas que estes ataques fazem parte de um histórico violento vindo da ditadura e que não acabou com o regime militar.

Crime Organizados

As facções criminosas foram pauta dos debates quando o assunto era segurança pública e redução de homicídios. Paes Manso explica para o Terra que o PCC se expandiu por vários estados do Brasil e que não busca o monopólio da droga, “ele tenta organizar o mercado como uma espécie de agência reguladora e permite que os parceiros tenham seus negócios, desde que respeitem as normas”.

Já para o UOL, Paes Manso conta a transformação da estratégia dos grupos. “Toda organização criminosa vai tentar se aproximar do estado para continuar operando. Durante muito tempo, isso aconteceu a partir do suborno, do chamado arrego a policiais, fiscais, etc. Agora, essas facções estão com muito mais poder e permitem que eles tentem ingressar na vida política para ter ainda mais acesso ao estado”.  

Segurança pública por região

O Nordeste, a região com mais homicídios do país, foi o local em que Bolsonaro teve piores resultados, como mostra o jornal Valor. Embora o candidato tenha como segurança pública uma das suas principais bandeiras, os locais mais violentos não preferiram o deputado. Paes Manso explica que a sensação de insegurança, mesmo em lugares com baixos índices de criminalidade, é mais crucial para o voto do que a violência em si. “O que conta é o medo mais profundo”, explica o especialista e completa dizendo que são os homens que tem mais medo. “Medo do desemprego, de perder o papel de provedor da família, medo das transformações culturais, da diversidade, da redução do papel da masculinidade, entre outros”. 

Já em São Paulo, o estado com o menor número de homicídios do país, reportagem da Folha crava que os dois candidatos ao cargo de governador tem propostas genéricas para a segurança pública. Paes Manso diz que para combater o crime organizado, é necessário ir além da guerra às drogas. “É preciso fragilizar a indústria do crime economicamente, fragilizar os comandos, a comunicação do presídio com [os criminosos do] lado de fora” explica o pesquisador.